sábado, 20 de agosto de 2011

Crônica


            É senso comum que em Resplendor o comércio anda meio parado. Se a gente for olhar a coisa pelo prisma da economia mundial, facilmente chegamos à conclusão de que a nossa cidade apenas sofre com o reflexo de uma crise global. Bolsas de valores fechando em queda, déficit na balança comercial, corrupção corroendo a maquina pública e blá, blá, blá. Então, uma cidade sem muita atividade industrial precisa ter um comércio ativo e forte, sem o qual a população sofre no marasmo de uma economia em declínio.
            Até ai, pouco a se fazer. Promoções, ofertas “imperdíveis” e planos de créditos mirabolantes tentam em vão aquecer as vendas na nossa querida terra ubérrima. Mas outro dia eu pude constatar que o problema não é esse.
            Uma vez no centro da cidade e com um pouco de dinheiro que milagrosamente me restava no bolso, resolvi comprar um aparelho de celular para minha filha. Nada muito cheio de remelexos, algo simples que pudesse substituir o “tijolão” que eu diligentemente lhe havia oferecido tempos antes. A garota tava merecendo um carinho, pela dedicação com a qual vem cuidando da casa. Consciência pesada e as “oncinhas” da nota de cinquenta reais se engalfinhando no meu bolso, eu então entrei numa loja para adquirir um aparelho.
            Na primeira loja, uma funcionária estava limpando o chão e pediu que eu desse a volta para que não sujasse o local onde ela já havia limpado. Fiz melhor, nem entrei. Não queria ser um freguês chato. Fui para outra não muito longe. Logo gostei de um aparelho simplesinho, mas muito simpático (leia-se barato!). Mas as três funcionárias da loja estavam muito ocupadas no computador e me ignoraram. Fiquei com uma sensação de ridículo, olhando o aparelho que desejava adquirir como um cachorro faz na máquina de assar frangos. Sai e fui pra terceira loja. Desta vez a moça se levantou e foi ao meu encontro disposta a me bem atender. Mas a loja só dispunha de aparelhos que custavam mais de 600 reais. Muitas oncinhas a mais. Talvez um zoológico inteiro. Saí sem comprar nada.
            Foi ai que comecei a meditar. Será mesmo que Resplendor sofre com a crise econômica mundial ou o problema é outro? Será que nossas lojas têm pessoas compromissadas em bem atender a clientela ou funcionários que cumprem horário de trabalho? Ou será que eu sou um cliente exigente demais para os padrões locais?
          A resposta eu não sei, mas pelo menos eu concluí que o melhor a fazer é voltar aos nostálgicos tempos onde os jovens escreviam cartinhas ao invés de teclar infindáveis torpedos SMS. O problema é que a minha filha dificilmente vai se agradar dessa idéia. Enquanto isso, ela vai utilizando o velho celular tijolão mesmo.